O escandalo do protetor solar na Austrália, a 'capital' do cancer de pele do mundo

Por que no Brasil n?o é recomendado jogar papel higiênico no vaso sanitário?

No Brasil,?oérecomendadojogarpapelhigiêniconovasosanitáque é cassino a orienta??o é usar o cesto de lixo, o que pode parecer estranho — e até anti-higiênico — para quem já teve contato com outras culturas.

A justificativa é que jogar o papel no vaso pode causar entupimentos na privada ou na tubula??o.

Segundo especialistas, a qualidade do papel higiênico e a infraestrutura da rede de esgoto s?o os principais fatores que explicam por que o papel higiênico deve ser jogado no vaso em alguns países, mas n?o no Brasil.

Você já ouviu falar que, em alguns países, o papel higiênico deve ser jogado dentro do vaso sanitário?

Em lugares como Estados Unidos, Canadá e grande parte da Europa, isso é t?o comum que muitos banheiros nem têm lixeira — justamente porque tudo vai embora junto com a descarga.

No Brasil, por outro lado, a orienta??o é usar o cesto de lixo, o que pode parecer estranho — e até anti-higiênico — para quem já teve contato com outras culturas. A justificativa é que jogar o papel no vaso pode causar entupimentos na privada ou na tubula??o.

Mas ent?o por que isso só acontece no nosso país, e n?o em todos? Segundo especialistas entrevistados pelo Guia de Compras, a resposta envolve dois pontos principais: a qualidade do papel higiênico e a infraestrutura da rede de esgoto. Saiba mais abaixo.

?Clique aqui para seguir o canal do Guia de Compras do g1 no WhatsAppBANQUINHO PARA FAZER COC?: entenda prós e contras, e por que existe uma posi??o correta

?? O papel higiênico importa

1 de 2 Por que no Brasil n?o se deve jogar papel higiênico no vaso sanitário? — Foto: Jcomp/Freepik

A própria qualidade do papel importa. “A grande maioria do papel higiênico que temos no Brasil n?o desintegra facilmente”, afirma Lucas Fuess, professor do departamento de hidráulica e saneamento da Escola de Engenharia de S?o Carlos da USP.

Isso tem a ver com hidrossolubilidade, que é a capacidade de um material se dissolver facilmente na água.

“Mas, no caso do papel, isso mede a capacidade de ele se despeda?ar em água turbulenta, porque ele é feito de celulose, que n?o chega a dissolver, mas consegue se desintegrar”, explica Fuess.

Para investigar essa propriedade, Rafael Brochado, que é engenheiro ambiental especialista em saneamento pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), testou, em 2018, papéis higiênicos produzidos fora do Brasil — como na Col?mbia, Espanha e Fran?a — contra alguns modelos nacionais.

O estudo foi feito como parte de uma pesquisa para o Trabalho de Conclus?o de Curso do especialista e usou máquinas de turbulência para simular a passagem do papel pelo encanamento.

“Enquanto os papéis estrangeiros apresentaram cerca de 60% de desintegra??o ao serem submetidos à turbulência e peneiramento, os brasileiros praticamente n?o se desintegraram”, relata Brochado.

2 de 2 Imagens do papel higiênico da Espanha (A) e do Brasil (B) antes e após o teste de desintegra??o feito por Rafael Brochado. — Foto: Cortesia de Rafael Brochado

Ao contrário de alguns países, n?o há uma exigência específica para que o papel higiênico seja hidrossolúvel. A norma vigente, ABNT NBR 15494:2007, define critérios de qualidade como gramatura, resistência, absor??o, seguran?a e higiene — mas n?o torna a dissolu??o em água um requisito. Assim, a hidrossolubilidade é considerada apenas um atributo adicional, n?o obrigatório.

Isso acontece principalmente porque, no Brasil, "n?o há uma exigência específica para que o papel higiênico seja hidrossolúvel", diz Taciane Albuquerque, analista de qualidade da Softys, fabricante de papel higiênico. "A hidrossolubilidade é considerada apenas um atributo adicional, n?o obrigatório".

Segundo Daniel Signori, Rela??es Internacionais da marca de papéis higiênicos Mili, produtos premium, como os de folha dupla e tripla, tendem a conter resinas que retardam a desintegra??o na água — o que é ótimo para o conforto do usuário, mas ruim para os canos.

??? A infraestrutura do esgoto é deficiente

Além da qualidade do papel, a própria infraestrutura de esgoto brasileira apresenta limita??es.

Apesar de algumas regi?es terem redes modernas, “muitas instala??es e muitas cidades n?o têm a rede de esgoto adequada e preparada para receber o papel higiênico”, diz Bruno Silva, gerente de desenvolvimento de produtos da Roca, fabricante de vasos sanitários.

Silva também afirma que muitos encanamentos e tubula??es s?o antigos, com curvas malfeitas, e que a largura mínima dos canos exigida pelo Brasil é de 100 mm, enquanto em países como EUA, Europa e Canadá, o diametro mínimo é de 150 mm.

Mas o engenheiro Fuess traz um contraponto, explicando que, mesmo com tubula??es mais largas, a incapacidade de desintegra??o do papel higiênico ainda pode gerar problemas em outros pontos da rede de esgoto.

“Por mais que o papel seja transportado, ele vai causar obstru??o nas grades das esta??es de tratamento”, afirma Fuess.

?? O que é mais higiênico?

Mesmo entre especialistas, n?o há uma resposta única sobre a melhor forma de descartar o papel higiênico no Brasil.

“Do ponto de vista sanitário, o melhor, realmente, é jogar o papel na privada”, afirma o engenheiro Fuess. “Pensando no melhor dos mundos, isso evita que quem faz a limpeza tenha contato com fezes e se contamine”, explica.

“Mas, como temos essas limita??es no Brasil, o jeito ainda é continuar usando a lixeira ao lado da privada”, lamenta Fuess.

Para os porta-vozes de marcas de papel higiênico consultadas pelo Guia de Compras, como Daniel Signori, da Mili, e Taciane Albuquerque, da Softys, o descarte no vaso é tecnicamente viável, mas somente em casas mais novas e bem estruturadas.

O engenheiro ambiental Rafael Brochado traz outro ponto: os papéis brasileiros testados ainda apresentam baixíssima capacidade de desintegra??o, mesmo os de folha simples. Para ele, tanto jogar no vaso quanto no lixo apresenta riscos e impactos, e é difícil dizer qual é o “menos pior”.

No fim, o que deveria ser uma escolha simples no banheiro para o consumidor acaba caindo em um problema estrutural de saneamento de nível nacional.

?? E n?o é só o papel...

Tem outros itens que nunca devem ser descartados no vaso. A lista é grande:

Len?o umedecidoAbsorventeFraldaCotoneteFio dentalCabeloPapel toalha, len?o de papel e guardanapoPreservativoRestos de comidaAreia ou terra (especialmente de gato)

Esses materiais n?o se desfazem e podem causar entupimentos sérios.

??? Entupiu? Calma, tem solu??o!

Se o vaso entupiu, o primeiro passo é usar o bom e velho desentupidor. “O correto seria primeiro usar um desentupidor, para entender se tem problema na bacia, antes da entrada do sif?o”, explica Bruno Silva, da Roca.

Se n?o resolver, ent?o é necessário chamar o encanador ou profissional hidráulico para analisar o problema.

Abaixo, veja uma sele??o de papéis higiênicos e cestos de lixo, por valores de R$ 10 a R$ 80, consultados, em maio, nas principais lojas da internet.

Esta reportagem foi produzida com total independência editorial por nosso time de jornalistas e colaboradores especializados. Caso o leitor opte por adquirir algum produto a partir de links disponibilizados, a Globo poderá auferir receita por meio de parcerias comerciais. Esclarecemos que a Globo n?o possui qualquer controle ou responsabilidade acerca da eventual experiência de compra, mesmo que a partir dos links disponibilizados. Questionamentos ou reclama??es em rela??o ao produto adquirido e/ou processo de compra, pagamento e entrega dever?o ser direcionados diretamente ao lojista responsável.