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Médico português revela como foi estar na linha de frente do combate à Covid em Rond?nia: 'Um estranho e longo pesadelo’

No início de 2021,édicoportuguêsrevelacomofoiestarnalinhadefrentedocombateàCovidemRond?jogo de hoje lotofácil quando Luís Moreira Gon?alves recebeu um e-mail do governo de Rond?nia convocando médicos para trabalhar no combate à Covid-19, o Brasil ultrapassara o trágico número de 200 mil mortos e a vacina??o mal come?ara. Português de Trofa, cidade ao Norte do país, no distrito do Porto, Luís trabalhava, na época, como professor na USP (Universidade de S?o Paulo) e resolveu atender à convoca??o. Ele estava disponível, de férias acadêmicas, e, no seu entender, parecia óbvio responder, pois tinha feito o juramento de Hipócrates. A quest?o é que ele nunca havia exercido a profiss?o de médico. Livros da semana: a crítica de 'Filha', de Manoela Sawitzki, e o lan?amento do segundo volume de 'Do vinil ao streaming'Pioneiro da autofic??o e da literatura queer: Jean Genet retorna às livrarias com romance e pe?a escritos na pris?o Após a gradua??o, Luís fez uma pós em Psiquiatria, um mestrado em Medicina e um doutorado em Química. Enfim, havia abra?ado a carreira acadêmica. Ent?o, fez quest?o de deixar claro que dava aulas e fazia pesquisa, n?o tinha experiência clínica. Mas queria ajudar. E tinha vontade de aprender. Dois anos depois, procurou o quadrinista brasileiro Felipe Parucci para, juntos, transformarem sua árdua experiência como médico em um hospital de campanha de Porto Velho no emocionante livro “Dormindo entre cadáveres” (Comix Zone). — Queria contar uma história da pandemia e acabei por me render à evidência de que a história ficaria mais interessante contada em primeira pessoa — explica o português. — Uma vez, tive uma paciente que, após ter alta da UTI, enviou um postal a agradecer com as seguintes palavras: “Obrigado pelas horas que ficaram sem dormir.” Também quis agradecer a todos os profissionais que ficaram sem dormir. Leitura aflitiva N?o havia sono tranquilo também para Luís, como se vê na HQ, onde ele é acometido constantemente por pesadelos que tornam a leitura um tanto quanto aflitiva:— Eu dormia mal. Além da compreensível ansiedade que a situa??o provocava, os horários de quem faz plant?o n?o ajudam a dormir bem. Estávamos todos esgotados. Acho que a pandemia, para muitas pessoas, foi um estranho e longo pesadelo. Há quase a sensa??o de que nem chegou a acontecer. Ainda que o crescimento no número de casos graves no Brasil, principalmente em estados como Rio de Janeiro e Ceará, exija aten??o e a necessidade de as pessoas em grupos de risco estarem em dia com a vacina??o, o médico diz que seu sono está melhor, pois o tempo ajuda a ultrapassar muita coisa: — Nos últimos dias, devido ao lan?amento do livro, alguns profissionais de saúde vieram partilhar comigo suas histórias da pandemia. Isso teve algum efeito sobre o meu sono. ‘é a história do Luís interpretada por mim’ Luís Moreira Gon?alves pensava em fazer um livro de cr?nicas sobre sua experiência no combate à Covid-19, algo no estilo “Esta??o Carandiru”, de Drauzio Varella, mas acabou pensando que ficaria mais impactante se fosse em arte gráfica. Ao menos foi isso que ele escreveu em um e-mail enviado a Felipe Parucci, autor de “Apocalipse, por favor” (Lote 42), quadrinho que fez com que o médico o convidasse. — Luís nunca tinha produzido algo como uma HQ e me procurou n?o para desenhar uma história contada por ele, mas para ajudá-lo a contar essa história, e fiz isso à minha maneira — conta Felipe. — Inicialmente, a inten??o dele era fazer um relato como um documentário, com termos técnicos, especifica??es de procedimentos médicos, mostrando como a Covid afeta o sistema respiratório etc. Mas logo percebi que o importante sobre a história era ele próprio e n?o a Covid. Com novos documentos: livro ilumina origens de Luiz Gama e refor?a hipótese de engajamento político de sua m?e Segundo Felipe, foi o que o levou a escolher um título para o livro que n?o fala explicitamente sobre a pandemia ou sobre o vírus: — A inten??o foi mostrar seu ponto de vista, que era único, sobre um acontecimento t?o chocante. Queria mostrar como isso o afetava psicologicamente e entender como funciona a cabe?a de alguém que viveu t?o perto da morte, com o peso extra da responsabilidade de ser médico e ter o dever, ético inclusive, de manter as pessoas vivas. Imagens da HQ 'Dormindo com os cadávares' — Foto: Reprodu??o Felipe diz que o médico lhe contava os relatos e ele ia imaginando tudo como uma HQ. E, juntos, eles organizaram os acontecimentos de forma coesa numa linha do tempo que resultou num roteiro que era um mix de texto, imagens de referências e comentários. — Foi realmente um trabalho coletivo que juntou muito dos dois criativamente — explica o quadrinista, que nasceu no Rio, mas cresceu em S?o Paulo. — é a história do Luís interpretada por mim. Com rela??o à pandemia para ele, confinado em S?o Paulo, Felipe é sincero: — Ironicamente me pesa dizer algo assim, mas foi ótima — admite o desenhista, que é formado em Direito e em Design. —No livro, incluímos um pouco da minha perspectiva da pandemia: trabalhava em home office, morava sozinho num apartamento, tinha um mercado do lado de casa e ficava ouvindo música o dia todo. Saía sozinho para andar de bicicleta com as ruas vazias, me encontrava só com pessoas de quem gosto e o mais importante: n?o perdi ninguém próximo. Novo bord?o nas redes: 'capital cultural' ensina a ostentar inteligência, mas distorce teoria criada por sociólogo francês A perspectiva confortável de Felipe, completamente oposta à de Luís, dá ainda mais for?a à narrativa. E o quadrinista sabe disso: — Sabemos que a maioria das pessoas teve uma pandemia mais parecida com a minha do que com a dele. Além da história dilacerante, outro grande trunfo do quadrinho está na arte em lápis de Felipe, que parece um esbo?o, como se houvesse um senso de urgência em narrar os fatos. — Acho que o tra?o ansioso do livro diz muito sobre minha interpreta??o dos sentimentos da história. E isso, sim, é inconsciente —afirma Felipe. Processo disciplinar Hoje, Luís n?o trabalha mais na USP e abra?ou em definitivo a profiss?o de médico. Até porque ele foi exonerado da universidade ao acumular dois cargos públicos, mesmo tendo solicitado, segundo ele, uma licen?a n?o remunerada enquanto trabalhava em Porto Velho. Para ele, a atua??o no hospital de campanha era mais urgente e necessária devido à pandemia e à carência de profissionais em áreas remotas do país. E, mesmo com orgulho de ter lecionado na USP, ele ainda responde a um processo disciplinar pelos salários acumulados enquanto esteve longe de S?o Paulo, enfrentando o vírus. — O processo continua, o que aliás n?o se coaduna com a urgência que existiu na abertura do processo, precisamente no dia de óbitos recorde no estado de S?o Paulo, mais de 1.100 — diz o médico português, que acredita merecer um pedido de desculpas. ‘Dormindo entre cadáveres’ Autores: Luís Moreira Gon?alves e Felipe Parucci. Editora: Comix Zone. Páginas: 320. Pre?o: R$ 124,90. Mais recente Próxima 'Processo de transforma??o e amor', diz Leandra Leal sobre filme em que atua ao lado da m?e e da filha; veja fotos Inscreva-se na Newsletter: Seriais Inscrever :root { --news-contextualizada-font: OGloboTitleFontBold,OGloboTitleFontFallback; --news-contextualizada-primary-color: #1e4c9a; } Mais do Globo .post-notifier-pushstream{ display:none}.bstn-fd .bastian-card-mobile,.bstn-item-shape,.tag-manager-publicidade-banner_feed_esppub--visivel .tag-manager-publicidade-banner_feed_esppub{ background-color:#fff;contain:layout paint style;margin:16px 0 0;overflow:hidden}.feed-media-wrapper{ margin:24px -24px 0}.bstn-fd-item-cover{ background-color:#ccc;background-position:50%;background-size:cover;height:0;overflow:hidden;padding-top:56.25%;position:relative;width:100%}.bstn-fd-cover-picture{ position:absolute;top:0;left:0;height:100%;width:100%}.bstn-fd-picture-image{ color:transparent;height:100%;width:100%}.feed-post-body{ padding:24px 24px 0}.feed-post-link{ 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